Hoje, dia 21 de setembro, é o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, e não é de hoje que as mulheres com deficiência lutam para visibilizar suas vivências marcadas pelo capacitismo e machismo, além de outras opressões em função de sua identidade e das dificuldades de acessarem e serem acolhidas nos serviços públicos de prevenção e proteção da vida das mulheres.
Aproveitando esta data a CAMTRA reuniu algumas falas e entrevistas de mulheres com deficiência para que as escutemos em primeira pessoa!
Caroline Pimenta, mulher e surda que foi vítima de tentativa de feminicídio, relata:
“Eu não tinha conhecimento da Lei Maria da Penha, como muitas mulheres surdas. Tive vergonha, ainda com hematomas, e não consegui me comunicar com os policiais. Eu estava angustiada, tinha uma pessoa ali que sabia libras, mas o policial não sabia e me registrou como uma pessoa incapaz de se comunicar, mas a questão não é essa. Me senti uma pessoa muda no sentido político, de não ter voz naquele momento e poder me expressar. Eu não sou uma pessoa incapaz cognitivamente, só preciso de um tradutor”. (entrevista a Agência Brasil – EBC).
Essa fala reflete as dificuldades de implementação da Lei Maria da Penha, que completou 13 anos esse ano e é reconhecida pela ONU como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra a mulher, mas mesmo assim não consegue alcançar e atender a maioria das mulheres com deficiência por causa, principalmente, das dificuldades enfrentadas para se fazer as denúncias.
Fernanda Shcolnik, integrante do Coletivo Feminista Helen Keller de Mulheres com Deficiência, destacou ainda que muitas mulheres adquirem deficiência após sofrerem violência doméstica. Para ela “É fundamental que as mulheres com deficiência sejam escutadas, porque elas são um grupo dentro da população feminina ainda mais vulnerável do que as mulheres sem deficiência. Se as mulheres já têm uma vulnerabilidade clara pelos dados que a gente tem de feminicídio no Brasil, as mulheres com deficiência têm quatro vezes mais chance de sofrer algum tipo de violência do que uma mulher sem deficiência”. (entrevista a Agência Brasil – EBC)
“Tal como o machismo, o capacitismo (preconceito contra pessoas com deficiência) é estrutural. A maioria das pessoas não precisam lidar com determinadas camadas de preconceitos. Se para a mulher sem deficiência existem, na maioria dos casos, três camadas a serem enfrentadas: gênero, raça e classe social. Para as mulheres com deficiência esse número se multiplica em: identidade, autonomia, gênero, raça e classe social”, (Fatine Oliveira, em seu texto “Seu feminismo inclui mulheres com deficiência?”)
Hoje é o dia de lutarmos e cobrarmos ações efetivas para que as mulheres com deficiência sejam porta-vozes de suas próprias narrativas e avancem ganhando reconhecimento e poder dentro das esferas sociais da nossa sociedade, mas não somente isso, hoje também é o dia de nos conscientizarmos e espalharmos essas sementes novas, para que juntas, possamos entender e desmascarar os nossos próprios preconceitos para nos unirmos na luta por um mundo mais justo e igualitário para todas! Seguimos por mim, por nós e pelas outras!
Fontes:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-08/mulheres-com-deficiencia-tem-mais-dificuldade-para-denunciar
#pracegaver
Em cima de um fundo roxo, aparece, na cor laranja a data de hoje, 21 de setembro e ao lado, em verde: “Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência”. Logo abaixo aparece, entre parênteses, a seguinte parte do texto de Caroline Pimenta: “Me senti uma pessoa muda no sentido político, de não ter voz naquele momento e poder me expressar. Eu não sou uma pessoa incapaz cognitivamente, só preciso de um tradutor. Caroline Pimenta, mulher e surda, vítima de tentativa de feminicídio”, ambos os textos estão com a cor branca. No canto superior direito e no canto inferior esquerdo aparecem os símbolos de acessibilidade.
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