Por Iara Amora – Colaboradora da CAMTRA
Vivemos em uma sociedade historicamente marcada pela divisão sexual do trabalho. Onde as atividades e funções de homens e mulheres foram diferenciadas e as mulheres responsabilizadas pelos trabalhos reprodutivos, ou seja, pelas tarefas que garantem a manutenção da vida de todas/os (cozinhar, limpar, lavar…). Desta forma, as mulheres ocupam a maior parte das funções sociais relativas aos cuidados e trabalhos domésticos em nossa sociedade. Seja dentro das nossas próprias casas, sejam em funções no mercado de trabalho, como enfermeiras, cuidadoras, nos serviços de limpeza, cozinheiras, etc. Somado a nossa herança colonial e a divisão racial do trabalho, são as mulheres negras a maioria de trabalhadoras que realizam esses serviços nas casas de outras famílias, como babás, empregadas domésticas, etc.
Além de diferenciar as atividades de homens e mulheres, a divisão sexual do trabalho também as hierarquiza. Assim, as atividades desempenhadas pelas mulheres dentro de suas casas são invisibilizadas e na maioria das vezes nem reconhecida como trabalho; e quando realizada de forma pagar, são funções e profissões menos valorizadas, mais precarizadas, entre outras. O reconhecimento tardio dos direitos trabalhistas das empregadas domésticas é um dos maiores símbolos do intercruzamento das divisões sexuais e raciais do trabalho. Soma-se ao fato ainda de que para dar conta da dupla ou tripla jornada, as mulheres acabam sendo a maioria nas atividades informais.
Essa sobrecarga de trabalho é um obstáculo para as mulheres se colocarem em condições igualitárias no mercado de trabalho e para continuarem seus estudos. Além de impactar a saúde física e mental das mulheres.
Em um contexto de pandemia da COVID-19 onde a nossa principal medida de prevenção é o isolamento social todas esses impactos são intensificados na vida das mulheres, em especial das mães e cuidadoras de idosas/os e enfermas/os, pois não podemos contar com com as políticas públicas de creches e pré-escolas, principais políticas de co-responsabilização estatal na esfera dos cuidados. Ao mesmo tempo em que nossas redes de apoio ficam reduzidas pelo risco de expor a saúde das crianças e de terceiras/os como avós e avôs, vizinhas, etc. Assim temos que dar conta de todas as demandas dos cuidados de nossas famílias e assim como das demandas externas de trabalho, seja em regime de home-office ou escalas, seja como autônomas ou ainda nos serviços essenciais.
O enfrentamento dessa realidade exige políticas públicas durante e pós pandemia que assumam a co-responsabilização do Estado pelo trabalhos dos cuidados e serviços domésticos, como lavanderias, restaurantes públicos, creches, entre outros. Passa também pelo enfrentamento da educação não sexista dentro das escolas e casas, meninos e meninas precisam crescer igualmente ensinados a compartilhar e ocupar todas as atividades e funções dentro e fora das casas. Passa também pelas mudanças de hábitos dentro das famílias com uma divisão igualitária das tarefas domésticas e dos cuidados. Não são tarefas fáceis, mas precisamos começá-las pra ontem!
Bibliografia:
FEDERICI, Silvia. Revolución en punto cero. Trabajo doméstico, reproducción y luchas feministas.
GONZALES, Lélia. Mulher Negra.
KERGOAT, Danielè. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. In: Dicionário crítico do Feminismo.