Mais um triste dado para o histórico de violência, descaso e desigualdade enfrentado pelas mulheres brasileiras: O Brasil atualmente lidera o ranking mundial de mulheres grávidas e puérpera mortas por covid-19: Ao todo, 124 gestantes já morreram por covid-19 no país. O índice de letalidade do vírus neste grupo é de 12,7% – a maior média mundial, que faz com que 77% das gestantes mortas pelo coronavírus em todo mundo sejam brasileiras. Os dados, que apontam ainda para a subnotificação, são da pesquisa “A tragédia da Covid-19 no Brasil” realizada por pesquisadoras da Unesp, UFSCAR, UFSC, Imip e Fiocruz, a partir das informações do Ministério da Saúde.
No total, 978 mulheres grávidas ou no pós-parto foram diagnosticadas com covid-19 entre os dias 26 de fevereiro e 18 de junho no Brasil, 124 delas morreram. Para se ter uma idéia da proporção da tragédia, no mesmo período 8 mil gestantes/puerpéras tiveram coronavírus nos EUA, mas “apenas” 16 delas morreram. Como causas prováveis para as mortes estão a dificuldade de acesso à Terapia Intensiva(UTI) e falta de recursos das unidades de Saúde — do total de diagnosticadas, só 21% foram admitidas em UTIs, e das mortas, só 64% conseguiram a ventilação mecânica. Outros agravantes são as comorbidades apresentadas pelas brasileiras, o baixo índice de testagem no grupo, e o baixo isolamento social, com muitas dessas mulheres ainda precisando ir ao trabalho e sair de casa com frequência.
Esses dados, embora revoltantes, nos trazem pouca surpresa. As pandemias tendem a multiplicar as violências e desigualdades estruturais e os índices de mortalidade materna já eram altos antes da pandemia — 64,5 mortes a cada 100mil, 92% delas, evitáveis — se agravaram ainda mais. Fora isso, conforme alerta a ONU mulheres, a pandemia ainda impacta outros serviços de acompanhamento da Saúde da Mulher, como os exames e consultas periódicas tal como mamografia, papanicolau e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Sempre é necessário destacar que as mulheres negras e pobres são as mais atingidas.
A violência obstétrica, também caracterizada pela negligência e descaso, também é uma forma gravíssima de violência contra as mulheres. É preciso que o Estado se responsabilize e adote medidas efetivas para amparar a Saúde das mulheres mães. É preciso que se enfrente o racismo estrutural que coloca as mulheres negras em uma situação de alta vulnerabilidade social. Nós da CAMTRA continuaremos denunciando e lutando em defesa dos nossos direitos e contra todas as formas de violência contra as mulheres, inclusive aquelas perpetradas pelo Estado. Basta! Nossa Saúde importa! É pela vida das mulheres!
Fonte: Jornal Internacional de Ginecologia e Obstetrícia/ Ministério da Saúde/Jornal Nexo