Mães indígenas lutam pelo direito de enterrar seus filhos, vítimas da Covid-19

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″Eu não quero voltar sozinha, sem o corpo do meu filho! Se eu voltar sozinha, eu vou sofrer muito na minha comunidade. Eu quero que vocês, autoridades, me ajudem. Eu quero o corpo do meu filho.” (T. Sanöma, 21/06/2020.) – “Xawara: rastros da Covid-19 na terra indígena yanomami e a omissão do estado”

Esse é apenas um dos relatos de mulheres indígenas do povo Yanomami, que perderam seus bebês para o coronavírus. Todas elas passaram pela situação de desespero, quando tiveram suas(seus) filhas arrancadas(os) da aldeia, por apresentarem sintomas da covid-19. As crianças faleceram pouco tempo depois, em hospitais de Boa Vista, e as mães foram informadas das mortes dessas crianças, mas não para onde os corpos seriam encaminhados.

Ainda segundo o relatório, todas essas mulheres foram hostilizadas nos hospitais. Sofreram racismo e preconceito linguístico, durante um dos momentos mais difíceis de suas vidas. O esclarecimento sobre o que aconteceu com os corpos dessas bebês só veio à tona depois de uma enorme pressão feita por apoiadores dos povos Yanomami e pela mídia.

Entre agosto e outubro do ano passado, o número de infectadas(os) pela covid-19, entre os povos Yanomami e Ye’kwana, saltou de 335 para 1.202, um aumento de mais de 250%. O principal motivo para esse aumento, além do crônico abandono e descaso com as populações indígenas, é o garimpo ilegal, que tem crescido, nos últimos anos, na região. O primeiro indígena aldeado a morrer por covid-19, foi um jovem de apenas 15 anos, que vivia em uma área próxima ao garimpo ilegal. Além dos casos de covid-19, outras doenças também tem sido disseminadas nas aldeias, devido ao contato com os invasores.

Hoje, estimam-se que haja mais de 20 mil garimpeiros invadindo a Terra Indígena Yanomami, porém, não há, por parte das autoridades, grandes esforços para punir os invasores e acabar com essa atividade. Assim, o povo Yanomami continua exposto a inúmeras doenças, muitas levando à morte as crianças e as bebês. Já são 7 casos confirmados de bebês Yanomamis mortas pelo coronavírus, desde o início da pandemia. O que especialistas definem como o pior cenário nos últimos 30 anos.

Nossa solidariedade às mães que tiveram suas(seus) filhas(os) arrancadas de seus braços e precisaram em luto, lutar pelos corpos de suas(seus) bêbes. É inaceitável que mais pessoas continuem morrendo por omissão das autoridades em relação ao garimpo ilegal. Basta de omissão e descaso com a população indígena!

Fontes: https://www.brasildefato.com.br/…/terra-yanomami…
https://acervo.socioambiental.org/…/xawara-rastros-da…
https://www.geledes.org.br/coronavirus-avanca-250-em…/