Por quantas violências uma mulher pode ser acorrentada?
A violência doméstica, o desespero da fome e a insuficiência da pobreza acorrentaram uma idosa de 61 anos na estrutura de uma das passarelas de acesso ao Terminal Alvorada do BRT, na Barra da Tjuca, Zona Oeste do Rio.
Mulher negra, moradora de Rio das Pedras, desempregada e mãe de um filho com crises epilépticas, a aposentada representa a realidade violenta de políticas púbicas incapazes de atender a real necessidade das mulheres, sobretudo em um momento de crise sanitária.
Em 2020, de acordo com o Dique 100 e Ligue 180, o Brasil registrou 105.671 denúncias de violência contra a mulher, sendo 72% referentes à violência doméstica e intrafamiliar.
Além disso, chegamos a mais de 39,9 milhões de pessoas vivendo na miséria (renda de até R$ 89 por mês) e mais de 11 milhões em situação de insegurança alimentar, segundo o IBGE e Ministério da Cidadania.
Na última quarta-feira (24), a idosa relatou à polícia que havia sido acorrentada pelo ex-marido, e ontem, deu um novo depoimento alegando que o ato teria sido de desespero – um pedido de socorro – pela crise financeira e emocional que vive. Ela relatou ainda que quando casada, sofreu violência doméstica, mas, não foi feito nenhum registro.
Como bem disse, Carolina de Jesus, negra e periférica como na história acima: “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no próximo!”