O Coronavírus e as trabalhadoras: Quais os impactos do coronavírus nas mulheres e como a pandemia realça as desigualdades de gênero 

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Desde março deste ano, o Brasil e o mundo vivem uma pandemia do novo Coronavírus. Rapidamente contagioso, e em muitos casos, letal (principalmente para grupos de riscos: idosas/os, pessoas com problemas respiratórios e comorbidades), o Covid-19 fechou fronteiras, derrubou mercados e paralisou até mesmo as maiores economias do mundo. Além dos agravos em saúde, o vírus também traz consigo, impactos econômicos e sociais que devem atingir principalmente as/os trabalhadoras/es precarizadas/os e as populações mais vulneráveis.

Sabemos também que as  epidemias, pandemias e emergências em saúde pública são intensificadas pela“violência estrutural”, ou seja, o modo como as estruturas políticas e econômicas afetam, infectam e matam populações vulneráveis que vivem em condições precárias. Um exemplo desse fenômeno na prática é que mesmo com as recomendações de higiene sendo reforçadas pelos órgãos de saúde como uma forma de barrar o covid-19, muitas moradoras/es de favelas e regiões empobrecidas do Rio de janeiro, seguem sofrendo com a falta d’água e de saneamento básico. 

Dentro desse contingente vulnerabilizado, a soma dos impactos também é maior para as minorias: mulheres, negras/os, população LGBT, imigrantes, entre outras/os. Um exemplo é o crescimento da xenofobia, intensificação das políticas racistas e de apartheid social nesses períodos. No caso das mulheres, por exemplo, a epidemia do coronavírus já tem refletido gravemente as disparidades e a violência de gênero.

A partir de todas essas questões, reunimos aqui 4 pontos para entender como a epidemia do coronavírus afeta de maneira particular as mulheres trabalhadoras e possíveis formas como podemos individual e comunitariamente responder à algumas dessas problemáticas, confira:

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES 

A violência de gênero é um fator de atenção em pandemias, como o COVID-19, que requerem confinamento familiar. É preciso lembrar que a casa não é um local seguro para as mulheres. O Mapa da violência de 2012, apontava que apontam que 71,8% das mulheres vítimas de violência atendidas pelo Sistema único de Saúde-SUS, haviam sido agredidas dentro de casa. 

Na China, epicentro do vírus, ativistas, ongs e entidades de proteção às mulheres afirmam que a violência doméstica cresceu, denúncias de vítimas e testemunhas aumentaram três vezes no período de quarentena implantada no país. O aumento da violência doméstica também já acontece no Brasil: O estado do Rio de Janeiro, já registra crescimento de 50% dos casos de violência durante o período de isolamento social, conforme o  Plantão da Justiça Estadual do RJ, informou nesta terça-feira (24/03). 

De acordo com a ONU Mulheres, em um contexto de emergência, os riscos de violência contra as mulheres e meninas, especialmente a violência doméstica, aumentam devido ao crescimento das tensões em casa e também o isolamento das mulheres. As sobreviventes da violência podem enfrentar obstáculos adicionais para fugir de situações violentas ou acessar ordens de proteção e/ou serviços essenciais devido a fatores como restrições ao movimento de quarentena. Outros fatores preocupantes são o aumento do estigma, da xenofobia e da discriminação e o recrudescimento das redes de exploração sexual de meninas e mulheres.

Como enfrentar?
Vamos passar por isso juntas! Precisamos mais do que nunca estarmos unidas e conectadas umas com as outras. Vamos manter em nossa rotina de quarentena contatos por redes sociais e ou por telefone. Vale lembrar sempre: mulheres em situação de violência precisam de apoio e acolhimento e não de julgamentos!
Vamos repassar as informações! Com todas as medidas de isolamento social e cerceamento de restrições de deslocamento muitas mulheres podem não saber que existem serviços de atendimento às mulheres que continuam atendendo. Por isso, é preciso divulgarmos por todas as nossas redes que  ela não precisa esperar que a quarentena acabe para denunciar e buscar ajuda.

– Nós continuamos com você! Se você precisa de orientação quanto á como proceder em uma situação de violência com você ou com alguém que você conhece, pode nos mandar uma mensagem no número (21) 99630193 ou via Defenda-se, plataforma criada pela CAMTRA que reúne informações, endereços sobre como proceder diante de diversas formas diferentes de violência.

Atendimento à Violência contra as Mulheres no Rio de Janeiro:

 Defensoria Pública do Rio de Janeiro continua atendendo presencialmente casos de urgência relacionados à violência de gênero. Na Capital, o atendimento é feito pelo Núcleo de Defesa das Mulheres Vítimas de Violência de Gênero (Nudem), localizado na Rua do Ouvidor, nº 90 – 4º andar; Telefones:  21.2332-6371 ou mande um e-mail para nudem.defensoriarj@gmail.com. Nas demais regionais e Comarcas, os atendimentos serão realizados nas sedes da Defensoria de cada localidade.Telefones: 21.2332-6371 ou mande um e-mail para nudem.defensoriarj@gmail.com.                                                                                                                                                                                                                                                      Delegacias de Atendimento às Mulheres segue em funcionamento. A medida de suspensão de atendimentos presenciais  nas delegacias, não se aplica aos casos de violência contra as mulheres e outros casos de violência. As DEAMS continuam funcionando normalmente. Acesse  os endereços :  https://camtra.org.br/defenda-se/violencia-fisica/ .

 CEJUVIDA –  Central Judiciária de Abrigamento Provisório da Mulher Vítima de Violência de Doméstica Segue em funcionamento no Plantão Judiciário – Rua Dom Manoel, s/nº – Em frente ao Prédio do Museu da Justiça – Tel. 21.3133.3894 / 21.3133.4144. Para maiores informações acesse: http://www.tjrj.jus.br/cejuvida

TRABALHO DOMÉSTICO E NÃO-REMUNERADO

Já sabemos que a divisão sexual do trabalho destina às mulheres, menores salários, piores condições de trabalho e as maiores responsabilidades do trabalho doméstico e não remunerado. Por isso, quando a CAMTRA pontua que todas as mulheres são trabalhadoras, com ou sem emprego formal ou ocupação remunerada, estamos fazendo fazendo uma afirmação política como um fato concreto da nossa estrutura social. 

Com as medidas de enfrentamento à pandemia, como a suspensão do funcionamento de creches, escolas, fechamento dos serviços, redução de escalas de trabalho e o isolamento social, aumenta-se não só o número de pessoas da família em casa mas também o volume de trabalho doméstico, que, na maioria das vezes acaba sendo imputado às mulheres da residência. Junto às tarefas domésticas, o cuidado com as filhas/os e as/os idosas/os, vêm também a “Carga mental“, ou seja, o trabalho invisível de planejamento e gerenciamento dessas atividades, que recai sobre as mulheres. Essa sobrecarga não só impacta na saúde física das mulheres mas também em sua saúde psicológica e emocional, causando um quadro de exaustão e cansaço físico e mental que pode inclusive adoece-las, enfraquecendo sua imunidade e deixando-as mais suscetíveis ao vírus.

Como enfrentar?

As tarefas da casa são de todas/os que moram nela! “Sem essa de dar uma ajuda”. Se você é homem e divide o lar com mulheres, sejam elas, sua esposa, suas irmãs, mãe e/ou avós, os serviços domésticos também são da sua responsabilidade, o mesmo vale também para o cuidado com as/os filhas/os e idosos na residência. Mulher, se você se sente responsável a realizar as tarefas da casa só por ser mulher, saiba que esta responsabilidade não é somente sua e deve ser dividida igualmente pelas/os moradores da casa. Converse com sua família sobre o assunto!
Ter crianças em casa é um desafio adicional na quarentena. Não se  cobre ou se culpe por dar conta integralmente das atividades e necessidades lúdicas das mesmas.  Respira e veja  uma rotina possível para vocês. Lembre-se “ é preciso de uma aldeia inteira para cuidar de uma criança.

Quebre o ciclo, defenda uma educação não-sexista! Se você é faz parte diretamente da educação de uma criança, trabalhe com ela, desde pequena, a importância da divisão do trabalho doméstico entre ambos os sexos e a importância da igualdade de gênero. Converse sobre o tema e amplie informações no seu trabalho, grupo de amigas/os, no seu bairro e no bar. Suporte grupos e organizações que promovam a  educação não-sexista e os direitos das mulheres! A CAMTRA tem uma cartilha sobre esse tema: https://camtra.org.br/portfolio/por-uma-educacao-nao-sexista/ 

CUIDADOS EM SAÚDE

A sociedade patriarcal historicamente delega às mulheres o zelar e o cuidar. Não à toa, na Ásia as mulheres compunham 70% das/os profissionais na linha de frente de combate ao coronavírus, de acordo com a  Organização Mundial da Saúde, o que também as torna mais  vulneráveis à infecção e ao estresse. Além disso as mudanças que a pandemia traz para os sistemas de saúde nacionais, com realocamento de recursos e necessidades emergenciais, também pode comprometer  o acesso de meninas e mulheres aos serviços de saúde sexual, reprodutiva e prevenção, incluindo também a atenção pré-natal e pós-natal. 

Como enfrentar? 

Seja empática e obedeça as recomendações de saúde: Sabemos que o  momento é de apreensão, porém se você ou algum familiar precisar de atendimento médico, procure ser empáticas/os às/os profissionais de saúde que estão trabalhando para minimizar essa crise e salvar vidas. Respeito às regras do ambiente médico e hospitalar, obedeça as recomendações de higiene e de cuidados.

Defenda a inclusão das mulheres na resposta à pandemia: Certifique-se de acompanhar, fortalecer  e incentivar políticas e pautas que incentivem a participação das organizações de defesa dos direitos das mulheres e minorias, e grupos comunitárias nas medidas de controle, monitoramento e enfrentamento à pandemia do covid-19 e outras políticas de saúde.

PRECARIZAÇÃO DAS TRABALHADORAS

Para frear a pandemia e não sobrecarregar os sistema de saúdes, os países afetados pelo COVID-19 têm tomado medidas como a suspensão do comércio e eventos, o isolamento social e a diminuição drástica da circulação de pessoas nas ruas e em espaços públicos, suspensão das linhas de transporte público entre outros serviços. Essas ações, embora necessárias para evitar maior aumento transmissão do coronavírus, prejudica profundamente as trabalhadoras informais e autônomas,  cada vez em maior número no país. 

Soma-se a isso, o  fato de que no Brasil, são as mulheres as maiores responsáveis pela gestão familiar. Em 2015, 28,9 milhões de famílias eram chefiadas por elas, de acordo com o  livro “Mulheres Chefes de Família no Brasil: Avanços e Desafios”. Sendo assim, a perda da renda ou sua bruta diminuição, afeta não só a elas mas também suas famílias. Diante do atual contexto de total desmonte dos direitos trabalhistas e de seguridade social no Brasil, a pandemia então aprofunda os processos de de violência estrutural como o racismo, a xenofobia, a pobreza, empurrando essas mulheres para a violência, e  marginalização.

Como enfrentar?

Colabore e fortaleça as redes de apoio às trabalhadoras: A articulação em redes de solidariedade e apoio às mulheres mais vulnerabilizadas pela pandemia é fundamental nesse momento. A CAMTRA, entre outras organizações e coletivos está recolhendo produtos de higiene, cestas básicas, dentre outros recursos necessários, para essas mulheres. Se você é uma trabalhadora formal e pode colaborar, ajude! Se você é trabalhadora autônoma ou prestadora de serviço, articule-se com sua categoria.

Consuma de mulheres, durante e após a pandemia: Também destacamos que várias empreendedoras, artesãs e produtoras, seguem confeccionando e vendendo seus produtos on-line: Divulgue e apoie! Assim que o pico das transmissões acabar e o país ao pouco for retornar em suas atividades normais, procure comprar e consumir sempre de uma trabalhadora mulher em seu dia a dia e eventos sociais .

Redes de apoio: 

Camtra- Casa da Mulher Trabalhadora

Facebook/Instagram: camtra.cmt

telefone: (21)99630193

email:camtra@camtra.org.br

Vakinha dos Camelôs

Movimento Unido dos Camelôs (MUCA)

Associaçao Comunitária Mulheres de Atitude e Compromisso social – AMAC 

 

Saiba mais:

“GÊNERO E COVID-19 NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE: DIMENSÕES DE GÊNERO NA RESPOSTA” –  ONU MULHERES. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2020/03/ONU-MULHERES-COVID19_LAC.pdf

“Mulheres Chefes de Família no Brasil: Avanços e Desafios”. Disponivel em: http://www.ens.edu.br/arquivos/mulheres-chefes-de-familia-no-brasil-estudo-sobre-seguro-edicao-32_1.pdf