“Amada!” era assim que a Tia Gaúcha, Cleonir Alves, tratava a todas as mulheres, porque, na sua simplicidade, sabia fazer das suas dores e das dores de todas nós, nossa luta.
A senhora negra, mãe de muitas filhas e filhos é o que chamamos de ancestral. Cleonir era empregada doméstica aposentada, nos emocionava com sua voz potente e sotaque carregado. Seus discursos eram tão grandes quanto sua indignação e seu canto nos embalavam numa ciranda circular de força e ginga, para equilibrar a vida.
Nasceu no Rio Grande do Sul, onde se deu início sua percepção do racismo que sofria, ainda menina. Foi em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, que encontrou, na dura realidade de outras mulheres negras, solo fértil para desenvolver a sua luta pela vida das mulheres trabalhadoras, através da COMZO – Conselho de Mulheres da Zona Oeste. Sócia-fundadora da CAMTRA, construiu junto a outras mulheres caminhos de combate à violência, toda forma de opressão e ameaça à vida.
Assim como o Baobá, árvore africana, que vive por muitos anos, símbolo da vida que gesta muitas outras sementes foi também Tia Gaúcha. Ela foi terra fértil e por onde passou plantou na vida das mulheres a possibilidade de gestar novos sonhos e novas formas de viver. Viveu com doçura, sempre em luta e acreditando que outros futuros são possíveis!
Sua luta pela DEAM de Santa Cruz, por mais serviços de atendimento especializados às mulheres da Zona Oeste permanece viva!
Neste 08 de março – Dia Internacional das Mulheres é com muita saudade que, juntas, gritamos: Gaúcha Presente!
Ela nos deixou em 2020, mas o seu legado para as mulheres trabalhadoras permanece!