Após a mobilização nacional das/os estudantes, que envolveu diversos setores da sociedade brasileira, no movimento #adiaenem, o MEC anunciou essa semana o adiamento do Exame Nacional do Médio – Enem e do prazo de inscrições. Segundo o anúncio a prova será realizada em versão presencial e digital, 30 a 60 dias depois da data original. As inscrições que se encerrariam hoje (22/05) passaram para a próxima quarta (27/05). Mas essas mudanças ainda são insuficientes para superar as desigualdades educacionais que ficaram ainda maiores entre as candidatas/os durante a pandemia.
Composto por entidades estudantis, universidades, professoras/es, cursos comunitários e até escolas particulares, o movimento nacional #adiaenem trouxe a público o debate sobre as desigualdades econômicas e sociais que se agravaram no país devido a pandemia de Covid-19.
Com a suspensão das aulas presenciais em toda a rede, o acesso a educação de qualidade piorou, já que grande parte das/os participantes não têm infraestrutura necessária para acompanhar as aulas on-line. Mais de um terço (39%) dos domicílios brasileiros ainda não tem nenhuma forma de acesso à internet. Enquanto 99% da classe A tem alguma forma de acesso, o índice de residências sem acesso nas classes D e E chegam a 70%. (CGI.br).
Esses dados já estão se refletindo em dificuldades de acesso e acompanhamento da grade escolar de alunas/os do Ensino Médio, que estão no ensino à distância, como pontua a anos estudante do 3º ano, Samara Souza, de 17 anos: “[…] Na minha sala, na minha escola tem gente que não conseguem entrar na plataforma que eles disponibilizaram pra gente estudar por que que não tem internet, não tem celular ou computador então isso dificulta muito (para) eles” afirma. Outro motivo de preocupação para Samara, que mora na Baixada Fluminense, é a proposta do “Enem Digital”, ou seja, a realização da prova à distância, com disponibilização de acesso à internet em lugares pré-determinados pelo MEC. “O Enem digital seria sim uma boa ideia, porém quando eu vi lá (onde fazer), eram lugares bem longe, e muita gente não tem como ir até esses lugares…” lamenta.
Mesmo quem tem celular e/ou outras formas de acesso enfrenta a dificuldade de estudar no ambiente familiar. É o caso de Alaiane de Fátima,que aos 34 anos, de Paciência, Rio de Janeiro, fará o Enem pela segunda vez. “Quando fiz o ano passado, não tinha computador e precisava estudar através de vídeo aulas, pois como estava desempregada não tinha como custear nem um cursinho comunitário. Dividia o tempo do único celular da casa para isso, ouvia as aulas enquanto fazia comida e organizava a casa, mas a concentração não é a mesma, pois além das tarefas domésticas e de parar para dar atenção aos familiares há barulho de obras e carros de som. Muitas vezes faltava dinheiro para colocar crédito para ter internet. Este ano com mais pessoas em casa e on-line devido ao isolamento, muitas famílias precisam dividir os eletrônicos, e a internet quando funciona oscila tanto que não é possível permanecer on-line para estudar.”
Para quem depende dos cursinhos comunitários, as dificuldades também são grandes, pois a maioria não consegue estabelecer uma rotina de ensino on-line seja pela falta de infraestrutura e também porque suas/seus professoras/es voluntárias/os também não têm ou moram em áreas onde a internet é precária.
As falas de Samara e Alaiane refletem um pouco da realidade de milhares de mulheres estudantes ou que tentam voltar a estudar. Em 2019 as mulheres representaram 59,5% das/os 3.031.828 de inscritas/os no Enem (INEP). Assim, seguiremos atentas e mobilizadas para que a realização do Enem representante uma oportunidade de acesso para milhares de brasileiras/os e não o aprofundamento de desigualdades históricas, como as de gênero, raça e condição econômica!
“Eu sou a favor sim do adiamento.”
Samara, 17 anos, moradora da Baixada Fluminense, participante do Enem.